Eu Sei: Tributo uruguaio à Legião Urbana

A Legião Urbana não está de volta e nem voltará, mas 2009 promete ser um ano bom para os fãs do grupo. Na semana passada, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá voltaram a tocar juntos depois de 16 anos. Como assim?! Você não soube?! Onde foi isso?! Bem, em Montevidéu…

É, você não ficou sabendo, ninguém noticiou, mas rolou. A banda foi homenageada em um evento chamado “Eu sei - Tributo a Legião”, na semana de eventos de inauguração da filial uruguaia da famosa casa argentina La Trastienda, e os caras toparam se juntar com um grupo de artistas uruguaios que queria homenagear a Legião. Evento lotado (2 mil pessoas), com direito a muitas reportagens nos jornais daquele país, eles foram saudados e citados como uma das maiores referências do rock uruguaio contemporâneo. Pra ter idéia, entre os músicos que promoveram o evento e comandaram a festa, integrantes do Vuelapuerca e do Bajofondo.

Mais do que isso (e mais do mesmo), há alguns meses a EMI anunciou um acordo com as três partes do grupo para lançar digitalmente o conteúdo da Legião Urbana em diversas plataformas. Esse é um tipo de negociação sempre complicada que, guardada as devidas proporções, a matriz da gravadora ainda não conseguiu solucionar para o catálogo dos Beatles, por exemplo. A real é que incursões como esta sempre podem render mais frutos do que só “poder baixar músicas legalmente”. Normalmente quando se mexe em baú, sempre sai coisa. Parece que eles ainda têm todo o tempo do mundo…


Marcelo Bonfá e Dado Villa Lobos (Legião Urbana) tocam juntos das maiores bandas do Uruguay e Argentina (Bajofondo, LaVela Puerca, Bufon, etc.) em Montevideo.

Fonte: SobreMúsica.com.br

Tributo uruguaio à Legião tem participação de Dado e Bonfá

Reportagem do jornal uruguaio El País (por SEBASTIÁN AUYANET).

El merecido homenaje al influyente rock brasileño
Recital. Músicos de Brasil y Uruguay en una gran comunión

La celebración que disparó la reunión de dos miembros de Legiao Urbana, la banda más popular del rock en Brasil, logró emocionar a más de 2.000 personas y demostrar cuánto influyó el rock brasileño en la música que hoy llena estadios aquí.

En la mayoría de las entrevistas que suelen hacerse con músicos, la cuestión de las influencias (o la música que escucha el artista, variable siempre relacionada) es un capítulo que, de forma más o menos tangente, se termina tocando. Hay veces en que, con razón, los artistas no saben responder con exactitud qué música los llevó a formar una banda y a pararse sobre un escenario.

Pues bien, desde que Martín Buscaglia dijo en La Trastienda "con ustedes, con nosotros, con todos, el señor Dado Villa-Lobos", quedó claro que Legiao Urbana es una de las fuerzas rockeras con mayor influencia en buena parte del rock nacional y géneros añadidos. En el público también, porque durante todo el show acompañó las canciones con la fuerza, el conocimiento y la emoción de quien canta las canciones que acompañaron toda una vida. Y no hablamos sólo de treintañeros y cuarentones porque hubo gente de todas las edades. La Trastienda tuvo sus dos primeras noches de ambiente rockero generalizado, entre ovaciones, cánticos de toda la sala y sonido sin demasiados reproches para hacer.

Para la entrada del baterista Marcelo Bonfá faltaban unos temas. Pero desde Perfeicao, octava canción del concierto, La Trastienda tuvo el primer estallido de su existencia. Buscaglia a la voz, Diego Barthaburu a la batería, los estables Mateo Moreno y Guzmán Mendaro (bajo y guitarra) junto a Marcel Curuchet acompañaban al hombre más visible y aclamado de la banda de Brasilia. La sucesión de músicos demostró que eran muchos más los que querían estar que los que podían: Juan Campodónico, Luciano Supervielle, Emiliano Brancciari, Sebastián Cebreiro (mención especial para la mejor voz en portugués en Há tempos y en A cancao do senhor da guerra), Gabriel Casacuberta, Martín Ibarburu y Ossie Garbuyo se fueron mezclando.

Quien sin dudas se acercó más al espíritu melancólico tan similar a Joy Division que subyace en el post punk eléctrico de Legiao Urbana fue Juan Casanova, que lejos de otras performances más erráticas fue quien estuvo más cerca de evocar la voz de Renato Russo, el homenajeado de la noche, en proyecciones que aparecían tras el escenario.

Todas las canciones fueron clásicos, y los músicos que quedaban fuera del escenario quedaban a los costados, cantando con el público mientras los dos brasileños (Bonfá arrancó a la batería desde Índios, unos tres temas después) agradecieron y se abrazaban entre sí.

En el final llegó el único momento previsible. Qué país é este, con todos los músicos sobre el escenario rockeando antes del bis (se fueron y volvieron con Eu sei, canción que daba nombre al tributo) terminó con el festejo de músicos que viven su propio tiempo, combinándose más allá de los géneros y celebrando música que a todos les marcó algún momento de la vida, en un evento que en Brasil va a ser una sorpresa. Nada mal para una fiesta de fin de año.

Fonte: El País Digital

Renato Russo - O Trovador Solitário (2008)

Ainda hoje, quase no final da primeira década do século XXI, a Legião Urbana é a maior banda de rock deste país. Se é (era) a melhor são outros quinhentos, mas o que importa é que o enorme sucesso conquistado por Renato Russo e companhia nos anos 80 aumentou nos 90, mesmo com álbuns menos "comerciais" e com a morte prematura do vocalista e letrista em 1996, em conseqüência de complicações causadas pela AIDS.

Nos anos 2000, uma série de lançamentos póstumos manteve o culto em alta destacando dois álbuns ao vivo da Legião ("Como É que Se Diz Eu Te Amo", show de 1994, e "As Quatro Estações ao Vivo", 1990) e um álbum de raridades de Renato, "Presente", que compilava versões para "Gente Humilde" (Chico e Vinicius), "Thunder Road" (Bruce), duetos com Erasmo, Leila Pinheiro e Zélia Duncan, além de entrevistas (?).

Diferente de seu predecessor póstumo (que cheirava a picaretagem), "O Trovador Solitário" surge como um resgate histórico que permite diversas avaliações sobre o mito em torno do compositor e sobre o rumo de sua banda. Lançado pelo selo Discobertas, do jornalista e pesquisador Marcelo Fróes, o CD reúne material resgatado de fitas K7 do início dos anos 80 com encarte recheado de desenhos feitos pelo próprio Renato.

A rigor, as onze canções contidas no lançamento já circulavam de mãos em mãos de fãs desde os anos 80, quando álbuns como "Dois" (1986), "Que País é Este?" (1987) e "As Quatro Estações" (1989) tomaram as paradas de sucesso (e os acampamentos) e tocaram, tocaram, tocaram, tocaram, tocaram e tocaram. E tocaram. Tocaram tanto que causaram a síndrome de náusea característica daquilo que ultrapassa nossos limites.

Gravada em seu próprio quarto, em 1982, a fita K7 flagrava a fase solo do cantor conhecida pelo nome que dá titulo ao lançamento (pós Aborto Elétrico, pré Legião). O que impressiona, porém, não é a baixa qualidade da gravação, mas o quanto aquele grupo de canções já exibia corpo, tronco e membros completamente definidos, e praticamente não mudaram quando registradas nos estúdios da gravadora EMI, nos anos posteriores.

Renato "inventa" uma Rádio Brasília e com seu "violão desafinado" apresenta "Eu Sei", "Geração Coca-Cola", "Faroeste Caboclo", "Veraneio Vascaína" (gravada pelo Capital Inicial em 1986) e "Que Pais É Este?" em versões exatamente iguais às popularizadas nas FMs de todo o país anos depois, só que gravadas em um toca-fitas simples num quartinho solitário de um Brasil que ainda vivia sob o comando dos militares.

"Eduardo e Mônica" segue idêntica (melodia e letra) até seu trecho final, quando Renato canta: "Eduardo e Mônica então decidiram se casar / um casamento indiano em algum lugar perto do mar / "O mar tá muito longe", um deles lembrou / "Vai ser aqui mesmo", e assim ficou / Foram pra Bahia e hoje Eduardo foi parar lá no Banco Central / Cristalina, Sampaio, Rio de Janeiro / E a Mônica dá aulas na escola normal / Eduardo e Mônica estão no Lago Norte / Ele projetou a casa e ajudou na construção / Só que nessas férias não vão viajar / Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação".

A fita ainda trazia versões para "Dado Viciado" (que Renato tentou gravar posteriormente, e acabou entrando no póstumo "Uma Outra Estação" em versão voz e violão – semelhante a de "O Trovador Solitário"), "Boomerang Blues" (gravada pelo Barão Vermelho e registrada em outra versão no póstumo "Presente"), "Anúncio de Refrigerante" (gravada pelo Capital Inicial no álbum "MTV Aborto Elétrico") e "Marcianos Invadem a Terra" (gravada no álbum solo de Dinho Ouro Preto e no póstumo "Uma Outra Estação" em versão voz e violão das sessões do álbum "Dois"). De extra, "Summertime" ao lado de Cida Moreira, em 1984.

Renato Russo ficou à frente da banda comandando-a com pulso forte até 1991, época em que Dado começou a assumir os rumos musicais do então trio (o que ficou evidenciado nos dois lançamentos seguintes, os ótimos "O Descobrimento do Brasil", de 1993, e principalmente "A Tempestade ou O Livro dos Dias", de 1996). Até ali, tudo que a Legião fez (e copiou dos Smiths e do U2 – sem ranço, por favor) são mérito e culpa do vocalista. Ok, você já sabia disso, mas "O Trovador Solitário" está ai para lembrar aqueles que esqueceram. São muitos...

(Nota: 9 | por Marcelo Costa, do Revoluttion)

Renato Russo | O Trovador Solitário | 2008 |

1. Dado Viciado
2. Eduardo e Mônica
3. Eu Sei
4. Geração Coca-Cola
5. Faroeste Cabloco
6. Boomerang Blues
7. Anúncio de Refrigerantes
8. Marcianos Invadem a Terra
9. Veraneio Vascaína
10. Que País é Este (Demo) (Bônus)
11. Summertime (Bônus) - Participação Especial: Cida Moreira


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Renato Russo e Picasso (sem trocadilhos)

Não é pouca gente que tem uma análise, teoria ou crítica sobre Renato Russo. Mas dias desses comecei a pensar em uma tese que me pareceu um pouquinho original, a ponto de arriscar dividi-la com vocês. Antes, porém, devo explicar que aqui em Brasília parece haver três tipos de roqueiro (com ou sem banda) — os que desprezam totalmente o Renato; os que acham o começo da Legião legal, mas a partir do quarto ou quinto disco a coisa foi ficando ruim; e, por fim, os que acham o cara tão foda que não conseguem sair da sombra dele.

Calma. Se você não se sentiu representado por nenhuma das categorias, digo que eu também não me sinto. Eu gosto pacas de Legião. E continuei gostando mesmo nos discos finais. ‘Meninos e Meninas’, ‘Teatro dos Vampiros’, ‘Vinte e nove’ figuram entre minhas músicas prediletas da banda, ao lado ‘Geração Coca-Cola’ e ‘Tempo Perdido’. Mas devo dizer que sempre me senti um estranho na minha turma, formada por caras que ou não dão muita bola pra Legião ou só curtem o começo.

Minha teoria parte da idéia de que o Renato não seria tão popular se ele não tivesse dado a guinada que deu a partir do ‘Quatro Estações’. Tudo bem, ele já tinha feito ‘Eduardo e Mônica’. Mas nos quarto, quinto e sexto discos ele arrisca uma poesia tão cotidiana que assustou de montão os roqueiros. Falo de versos como "Me empresta um par de meias e a gente faz uma feijoada", ou "Deixo a onda me acertar", ou "Acho que gosto de São Paulo e gosto de São João", ou ainda "Ela me disse que trabalha nos Correios e que namora um menino eletricista". Não me esqueço do dia em que, depois de ouvir o ‘V’ e ter achado ‘Vento no litoral’ meio brega, abri a janela e vi o rapaz que lavava os carros lá de casa todo feliz cantado a tal canção, que tocava na rádio que ele costumava ouvir (também brega para mim).

Bruno Golemvsky, ator que encarnou Renato na peça teatral sobre a vida dele, disse uma vez que o líder da Legião podia ser um artista cult, mas quis ser popular. Ele mandou bem demais quando falou isso. Porque o lado popular de Renato foi mesmo uma opção. Ele já tinha demonstrado erudição e capacidade de compor versos complexos, mas decidiu mudar. Nenhum outro roqueiro brasileiro foi tão ousado como Renato, nem tão bem sucedido ao promover uma guinada na forma de compor.

Mas só pode fazer isso quem já acumulou muita bagagem. Renato leu, consumiu muita música, era íntimo da obra de grandes autores. Por mais que ousasse, não corria o risco de regredir e escrever algo de má qualidade. Um equívoco aqui outro ali, é claro, podiam acontecer. Mas ele havia estabelecido uma capacidade tamanha de escrever letras de canções que conseguiu produzir versos simples, mas nada simplistas. Quando ouço as músicas da fase final da Legião, além de me inspirar a escrever de forma cada vez mais cotidiana, lembro daqueles vários esboços, complexos pacas, que Picasso fez de um touro até chegar à forma final, composta de cinco linhas. No final, Renato parecia compor assim. Economizando nos traços, mas não no significado de suas canções.

PS: Pros desafetos que pensaram que me encaixo no terceiro tipo de roqueiro brasiliense, que não conseguiu sair da sombra de RR, só tenho uma coisa a dizer: vocês estão enganados.

Texto por Beto Só - músico, compositor e jornalista. Tem dois discos gravados, 'Lançando Sinais' e 'Dias Mais Tranqüilos', ambos por Senhor F Discos. Leiam mais textos de sua autoria em seu blog.