Legião Urbana renasce no Porão do Rock
Estava anunciada como surpresa. A minutos de entrar, um cara falou "você está brincando comigo" quando o outro lhe disse que ia entrar a Legião Urbana. No telão apareceram imagens da banda, declarações de Renato Russo, Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá, trechos de clipes, de shows, o noticiário da morte de Renato e de sua cremação. Quando acabou, entraram Dado e Marcelo apoiados por músicos uruguaios e a introdução de "Tempo perdido" arrancou urros da multidão de mais de 35 mil pessoas que ocupava parte da Esplanada dos Ministérios para o segundo dia do festival Porão do Rock, inteiramente dedicado ao rock de Brasília.
O vocalista da banda local Móveis Coloniais de Acaju cantou "Tempo perdido". A seguinte foi "Quase sem querer" cantada por Sebastian Teysera, vocalista da banda uruguaia La Vela Puerca, seguido de "Eu sei" com Toni Platão. Bonfá cantou "Pais e filhos" pedindo ajuda da platéia, apelo desnecessário porque todo mundo já estava cantando. Numa rápida entrevista depois do show, Dado definiu o show de 40 minutos como uma "catarse coletiva". Os Paralamas do Sucesso entraram para cantar "Ainda é cedo", com direito a um duelo de solos entre Dado e Herbert Vianna. No final, Dado puxou "Gimme shelter," dos Rolling Stones, que Renato sempre misturava nesta canção. No centro do palco, um microfone com uma rosa branca simbolizou a presença de Renato Russo e ninguém cantou nele.
Dado Villa-Lobos
O uruguaio Juan Villanova, da banda Los Traidores, cantou "Será" e Philippe Seabra, da Plebe Rude, com sua inseparável Les Paul, levou a galera ao delírio máximo com "Geração Coca Cola", hino maior da geração dos 80 contra a ditadura militar. Para fechar, "Que país é esse", com todo mundo pulando e berrando na platéia e todos os cantores no palco. Apareceu até Loro Jones, guitarrista da formação inicial do Capital Inicial, fora da banda desde 2002, o que acabou minorando a ausência do Capital (fontes do festival disseram que eles pediram alto demais). Dado Villa Lobos não pensa como eles. Na coletiva, ele disse que ele e Bonfá não podiam ficar de fora num dia do festival que era dedicado ao rock do Planalto, ainda mais sendo da maior banda que saiu daqui.
A presença de músicos uruguaios como vocalistas e instrumentistas de apoio foi explicada por Dado:
-Em dezembro do ano passado fomos chamados para um tributo organizado por músicos uruguaios. Eram 20 músicas, eles tocaram 10 entre eles e nós as outras. Nós, que quase não tocávamos e nunca fomos ao Uruguai, vimos que nossa música atravessara as fronteiras.
Philippe Seabra, da Plebe Rude, cantou "Geração Coca-Cola"
Daí quando decidiram realizar uma série de shows como Legião Urbana com convidados, eles convocaram os músicos uruguaios Gustavo (teclados), Mateo Moreno (baixo) e Guzman Mendino (guitarra). Participou também como convidado o baixista do Jota Quest , P.J., que é de Brasília. Dado explicou que os shows devem rolar no ano que vem e não têm motivação especial alguma, apesar de ser o ano em que Renato completaria 50 anos:
- Trata-se apenas de reencontar o público com canções que dizem muito sobre a vida de muitas pessoas, uma catarse coletiva. E pelo simples prazer de tocar, it's only rock'n'roll but I like it - disse ele citando uma canção dos Rolling Stones.
Bonfá emendou que tocar com estes músicos jovens fez com que ele se sentisse 10 anos mais novo:
- Foi fantástico tocar com amigos que conheci há pouco. Tem uma galera aí com quem queremos tocar mais e acho que vai dar certo.
Dado disse que chegou a temer tocar em Brasília porque um show da Legião em 1988 terminou em pancadaria, mas Bonfá emendou:
- Que isso? Essas coisas não ficam na memória das pessoas. As músicas ficam, são o que importa - disse ele, que, como Dado, não aceita que os shows sejam um tributo, até porque é a própria banda tocando.
Este microfone com a rosa branca simbolizou a presença de Renato Russo
Por: Jamari França
Fotos: Licias Santos
Fonte: O Globo