Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Bajofondo - "Índios"


Depois de 14 anos, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá sobem novamente juntos a um palco brasileiro. O encontro aconteceu durante a apresentação da banda Bajofondo, no Rio de Janeiro, dia 09 de maio de 2009. A música escolhida foi "Índios".

Fonte: SobreMúsica.com.br

Legião Urbana e Paralamas Juntos

Setembro de 1988: duas das três maiores bandas do rock nacional (que havia virado febre entre os ouvintes – jovens e adultos – quatro anos antes) ganham um especial na poderosa Rede Globo, que ainda não entendia muito bem o que estava acontecendo, mas queria pegar uma carona na moda do momento. O resultado foi o especial “Legião Urbana e Paralamas Juntos”, que mais de vinte anos depois chega às lojas em edição caprichada (CD+DVD).

Porém, antes de qualquer coisa, é preciso entender o cenário da época, com seus atenuantes e agravantes. Animados pelo sucesso do Plano Cruzado I, o povão foi às lojas e gastou tudo o que podia, e um pouco mais. O RPM bateu 2 milhões de cópias vendidas. O segundo álbum da Legião, “Dois” (na cola dos estourados – na Inglaterra – Smiths), vendeu 600 mil cópias de cara, e o Paralamas também alcançou boas vendagens do álbum “Selvagem?”, que enfim dava sinais de abandono ao culto ao Police presente nos dois primeiros discos. Mas ai veio o Cruzado II, a Inflação e o cenário encolheu, mas nem tanto.

Um espectador desavisado, que não conhece o Brasil do século passado, não vai entender bulhufas de “Legião Urbana e Paralamas Juntos”. Ou terá pequenas impressões que vão desde perceber como a Rede Globo nunca soube filmar shows (a experiência adquirida em filmagens de futebol deveria ser trocada com os ingleses, experts em registros de shows ao vivo), muito menos editar. O especial começa com Renato Russo encapotado e com cachecol. Na seqüência, corte para um Herbert Vianna de camiseta e completamente suado em claro sinal de fim de show. Nota 0 para a edição.

Essas duas primeiras músicas (“Será” e “Meu Erro”) forçam uma comparação, e é incrível com Os Paralamas colocam a Legião no bolso no quesito instrumental. João Barone é um monstro, e massacra seu kit com vontade. A melodia do baixo de Bi Ribeiro é assombrosa e Herbert mostra qualidades na guitarra enquanto a Legião, ainda com Negrete no baixo e ancorada por um inspirado Renato Russo, é uma banda punk de instrumental desprezível tocando na maior emissora de TV do país clássicos do quilate de “Será” (um Buzzcocks alegrinho), “Tédio (Com um T Bem Grande Pra Você)”, “Que Pais É Este” (dois punk rocks energéticos), “Tempo Perdido” e “Eu Sei“ (Smiths, Smiths, Smiths).

Por uma série de conjecturas, a Legião era bem maior que os Paralamas na época, mesmo o segundo soando muito mais banda que o primeiro. E todo crédito tem que ser dado a Renato Russo, que soa infantil e deslocado nas entrevistas, mas se transforma em um poderoso frontman no palco. Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Rocha são apenas coadjuvantes em um palco cuja luz é jogada sobre Renato Russo, sua voz cativante e suas letras (a força de “Tempo Perdido” ao vivo arrepia a alma).

Na platéia, dezenas de globais (como Malu Mader e Silvia Buarque) cantam a plenos pulmões canções que seriam hinos de sua geração. A atriz Claudia Abreu, que ainda nem tinha 18 anos, representa a ala jovem no setor das entrevistas, mas são dos coroas as melhores impressões, como Tony Ramos que diz: “É uma manifestação dessa época. Eu mesmo, que não tenho esse pique, fui descobrindo nas letras e nas manifestações deles coisas ótimas”. Bussunda sarreia: “Eu não consigo entender as letras, mas gostaria muito de ter ido ao show da Legião Urbana em Brasília. Rock’n'roll é isso: é garra, é força, é luta!”.

Um dos comentários mais lúcidos é assinado pelo novelista Carlos Lombardi, que define Legião e Paralamas como “grupos urbanos. Eles são a cara do Brasil de hoje. Eles tem uma coisa muito moderna, sem ser simplificada. As músicas são simples, mas esse simples não é o contrário de sofisticado. Eles são muito modernos e muito interessantes”. No fim, Gabeira espeta e define: “Eu queria ver as letras do Legião no som do Paralamas”. Renato e Herbert também dão seus depoimentos, nenhum deles acrescentando nada a história de suas bandas.

No quesito repertório, mais um ponto para os Paralamas, que brincam com “Depois Que o Ilê Passar”, enfiam “De Frente Para o Crime” dentro de “Alagados” e optam por um lado b, a bonita “Dois Elefantes”, ao invés da dezena de hits óbvios jogados na gaveta. Sem contar “O Beco”, um arraso. Já a Legião brilha mesmo quando dá às mãos para o Paralamas, seja no dueto voz (Renato Russo, sensacional) e guitarra (Herbert e uma Gibson Les Paul) para a canção “Nada Por Mim” ou na arrasadora versão de “Ainda É Cedo”, com as duas bandas juntas no palco, citação de “Jumpin’ Jack Flash”, dos Stones, e intervenção guitarreira de Herbert.

Os extras são para fãs: sete playbacks no Globo de Ouro (quatro do Paralamas e três da Legião) e o clipe tosquissimo de “Que Pais É Este?” feito exclusivamente para o Fantástico. Muita coisa bacana ficou de fora como as duas bandas juntas tocando “The Song Remais The Same“, do Led Zeppelin, “Purple Haze”, de Jimi Hendrix e “Get Back“, dos Beatles (todas tocadas em trechos na introdução, mas que poderiam ter surgido na integra nos extras) ou Herbert e Renato escolhendo qual música ficaria melhor no dueto voz e guitarra (o vozeirão de Renato cantando na intro de “Ska“ no começo do especial é de arrepiar).

Como retrato de uma época, “Legião Urbana e Paralamas Juntos” é exemplar – e deixa saudades. O Globo Repórter com o RPM (incluso no box “RPM 25 Anos”) já não está mais só na missão de lembrar como foram os anos 80 para o rock brasileiro, e a evolução destes 20 anos (em termos de produção de palco, repertório e perda de inocência) é impressionante, o que de forma alguma deslegitima aquelas velhas (e clássicas) canções, todas tão presas ao inconsciente coletivo nacional que até fazem parecer que sempre estiveram ali. Agora é esperar que a Globo Marcas coloque nas lojas o segundo encontro deste projeto que reuniu Titãs e Barão Vermelho. A memória e a história agradecem.

“Legião Urbana e Paralamas Juntos”, CD + DVD (EMI)
Preço em média: R$ 34,90

Por Marcelo Costa [Scream & Yell]